Entrevista: Monica Kneip

Usando o esporte para o autoconhecimento e performance

Entrevista: Monica Kneip

A psicóloga Monica Kneip tem 56 anos, sendo 12 dedicados ao triathlon. Este ano, competiu no Mundial de Ironman, onde obteve a 14ª posição em seu Age Group e pôde vivenciar de dentro como se comportam as atletas durante o principal evento do ano.

BIO


Cidade que nasceu: Cataguases , MG

Cidade que vive: Rio de Janeiro

Tempo que pratica triathlon: 12 anos

Idade: 56 anos

Altura: 1,60

Peso: 53 KG

Bike: CERVELLO

Capacete competição: RUDY PROJECT

Sapatilha: TREK

Óculos de sol: GOODR

Tênis de treino: Olympikus

Tênis de prova: Nike

Wetsuit: BLUESEVENTY

Óculos de natação: ZOGGS

Treinador: Renato Defant (Santitreinos)

Equipe de apoio
Nutri : Julia Engel
Psicóloga Esportiva : Samia Hallage
Medico : Dr Leandro Gregorut
Fisioterapeuta : Christian Taguchi

Como conheceu o triathlon?


Eu sempre tive uma boa relação com o esporte e pratiquei atividade física desde a infância e a adolescência (natação, balé e bicicleta). O esporte de competição veio depois do nascimento dos meus dois filhos e em um momento de transição de carreira. Comecei com a corrida de rua em 2012 e, durante um treino para uma meia maratona, uma colega treinava ao meu lado para outro objetivo que era o IRONMAN 70.3 Panamá. Achei extremamente desafiador e me vi fazendo triathlon, tipo amor ao primeiro contato.

Eu já corria, sempre gostei de pedalar, mas praticava mountain bike, e precisava nadar. Passei a treinar com o professor da academia Ironman, comprei uma road usada e fiz minha primeira prova sprint (750 m de natação, 20 km de ciclismo e 5 km de corrida). E nunca mais parei de competir. Fui evoluindo nas distâncias (Olímpico, Endurance) e em 2014, fiz meu primeiro IRONAMN 70.3, no Paraguai/Foz do Iguaçu, concluindo em 7 horas e não vi o tempo passar. Fui muito feliz do início ao fim. Ali entendi o significado da palavra superação e resiliência. A experiência despertou muitas curiosidades, principalmente no aspecto emocional. Novas conexões foram surgindo, mudanças de hábitos aconteceram e muitos aprendizados passaram a fazer parte da minha trajetória.

Como foi o ciclo de treinos até o IRONMAN HAWAII 2025 e os principais resultados do ano?


O ciclo rumo ao Mundial começou cerca de um ano antes, na preparação para o IRONMAN Cozumel, onde conquistei a vaga. O ciclo de Cozumel foi relativamente curto, pois decidi fazer a prova apenas 2 meses e meio antes. Até então, eu vinha treinando para provas de 70.3, o que exigiu ajustes importantes de distância, intensidade e nutrição. Eu tinha o objetivo muito claro nesta prova, me classificar para o Mundial Kona. Isso me trouxe muita determinação e foco, tanto na preparação física, quanto na preparação mental.

O ciclo para Kona teve início quatro meses depois Cozumel. Nesse período, fiz diversas provas-teste, com as distâncias de triathlon Olímpico, corridas de 21 km e duas provas Ironman 70.3, sempre buscando testar meus limites e ampliar meu repertório físico e mental. Essas competições intermediárias funcionaram como metas de desempenho para chegar bem preparada em Kona. Quando os treinos passaram a ser mais específicos nas longas horas e distâncias, já me eram familiares. Foi necessário adaptar a altimetria, realizar aclimatação ao calor, treinar técnicas mentais, e fazer ajustes na alimentação e suplementação, sempre em parceria e sintonia com minha equipe multidisciplinar.

Todo esse processo gerou muito autoconhecimento e, como consequência, resultados expressivos ao longo do ano 2025. Conquistei a primeira colocação no ranking da UNLIMETED, responsável pelas provas IRONAMN 70.3 Brasil, na categoria 55+, e também no ranking da Federação do Triathlon do Estado RJ .

Na desafiadora prova de Kona, tive um bom resultado, 14º lugar na categoria de 148, com o tempo de 11h48, mas sempre há espaço para evoluir e melhorar.

O que planeja de provas para 2026?


No calendário, tenho duas provas de Ironman 70.3 e o Mundial de Nice. Além disso, estou amadurecendo a ideia de fazer um IRONMAN full (risos). Quero continuar evoluindo nas três modalidades, com atenção especial à natação.

O que mais te atrai no triathlon?


O que mais me atrai é todo o processo que vai muito além do desempenho esportivo. São inúmeros superações e aprendizados que podemos replicá-los nos diferentes papéis que desempenhamos na vida além do atleta amador gerando bem-estar físico e psicológico.

O triathlon se tornou um estilo de vida para mim. Gosto das três modalidades e o considero um esporte dinâmico e desafiador, especialmente pelas transições entre elas. Cada dia é um novo estímulo, uma nova emoção, e sempre com as variações naturais de performance. E é nesse caminho que vou evoluindo, desenvolvendo autoconhecimento, autocontrole e flexibilidade, com confiança no processo.

Como psicóloga, o que percebeu a nível de comportamento das atletas na semana de competição de Kona, este ano?


O Mundial sempre carrega uma energia muito positiva, e Kona é uma prova extremamente simbólica e desafiadora. Este ano, com a participação exclusivamente feminina, percebi um grupo muito unido, com bastante troca entre nos atletas estreantes em Kona e aquelas mais experientes na prova. Observei muita força física, performance nas classificações e motivação intrínseca por estarem naquele lugar tão sonhado. Ao mesmo tempo, a ansiedade pré-competitiva esteve presente, principalmente diante do desconhecido e das variáveis ambientais marcantes, como o calor intenso, as rajadas de ventos e a correnteza imprevisível no mar. É ambiente que testa corpo e mente ao extremo.

O grupo com o qual estive mais próxima chegou com antecedência para se ambientar e se recuperar da longa viagem. Realizamos o reconhecimento dos percursos e dicas por meio do KAHUNA Training Camp, o que foi um diferencial importante para ajudar a reduzir a ansiedade, trazer maior familiaridade e confiança em relação à prova.

Que dicas pode dar para os atletas chegarem equilibrados e em boa forma mental para as competições-chave do ano?


A principal estratégia é ter um objetivo definido e claro: saber para onde se quer ir, a direção que devem ser sempre alinhado aos valores e as possibilidades individuais do atleta.

Tendo o objetivo definido, o próximo passo é compartilhá-lo com o coach ou a equipe multidisciplinar e com a rede de apoio. Isso possibilita a construção de metas concretas, criam ações com compromisso e mobiliza todos no processo.

A Psicologia clínica do Esporte pode ajudar muito otimizando, de forma intencional, as habilidades psicológicas do atleta, como foco atencional, fortalecendo a autoconfiança e contribuindo para uma performance individual mais consistente e equilibrada.

Bate-pronto

Filme preferido: Uma Mente Brilhante

Artista: Journey

Livro: Viola Davis, Em Busca de Mim

Qual foi a viagem mais marcante que você já fez? Países escandinavos, Noruega ponto alto.

Existe algum lugar que você sonha em conhecer? Ilhas Phi Phi, na Tailândia.

Qual é sua comida favorita? Gosto de tudo, mas prefiro comidas leves e saudáveis.

O que você gosta de fazer no seu tempo livre? Praia.

Quem te inspira ou serve como referência de vida? Sem dúvida, minha mãe.

Quais são seus ídolos no triathlon? Fernanda Keller.

Qual foi a melhor decisão que você já tomou? Fazer esporte e trabalhar também com ele.

Qual esporte que também gosta de acompanhar? Ginastica artística.