Entrevista Tim Don: 7:40:23, o recorde mundial no Ironman Brasil

O triatleta que fez o melhor tempo do mundo em provas oficiais de Ironman no Brasil em 2017

Entrevista Tim Don: 7:40:23, o recorde mundial no Ironman Brasil
Foto: #rodpix

O inglês Tim Don, 4x campeão mundial, 3 olímpiadas - um dos mais vitoriosos e carismáticos triatletas do planeta. Caµpeão mundial de triathlon junior (1998), campeão mundial de duathlon (2002), campeão mundial de aquathlon (2005) e campeão mundial de triathlon (2006). Campeão do Ironman Brasil 2017 e um recorde mundial

Você teve um dia perfeito no Ironman Brasil em 2017 em Florianópolis?

Acho que todo atleta procura o dia perfeito. Em mais de 20 anos de triathlon, eu posso contar na mão as vezes que tudo deu certo. Realmente eu tive um desses dias, com uma performance difícil de acreditar.

Qual o segredo para essa parcial louca de 4:06:57 para os 180km no Ironman Florianópolis?

Não tem segredo, foi apenas um pouco melhor do que o Brent McMahon marcou ano passado (4:11:54). Trabalhei muito a aerodinâmica, escolhemos o melhor equipamento.

É muito mais a questão de me segurar na posição aero, saber colocar o ritmo durante os 180km - não tem segredo. Trenei muito, especificamente para a distância de 180km.

Eu foquei na distância Ironman e não mais no Ironman 70.3. Eu competi no Ironman 70.3 St. Grorge mas eu não descansei para a prova - então fiquei feliz com o resultado. A questão é conservar a energia durante a distância na bike, o máximo possível - foi o que eu fiz com a minha técnica e preparo.

Tim Don e seu setup para o recorde mundial em sua bike aero Specialized Shiv. Foto @rodpix

Nós vimos você correr a maratona para 2h44 depois de um pedal maravilhoso. Então não foi só a bike. Conte os detalhes? Você fez a transição muito rápida.

Sim, eu tinha um plano de nadar bem agressivo, fazer uma transição bem rápida e pedalar muit forte os primeiros 90km, para então poder decidir o que fazer - como o grupo iria reagir. Eu pensei que iriam ter outras pessoas comigo...

Você ficou surpreso após a transição, logo no início da bike - sozinho na liderança?

Sim, eu fiquei muito surpreso porque eu sei que o Igor Amorelli é um excelente ciclista e tem pedalado muito bem nas provas. Mas ele não fez uma boa transição - ficando atrás do grupo líder, o que ficou difícil para ele pular para frente nos primeiros quilômetros.

Eu percebi também que ele e o Colucci, estavam meio que num jogo e isso acabou atrapalhando eles, enquanto eu pude estabelecer e ficar no meu ritmo lá na frente, focando em mim e não nos outros. Isso foi uma vantagem para mim. Eles poderiam ter pedalado melhor mas ficaram competindo um com o outro.

E quando você começou  a pensar no recorde mundial do Ironman durante a maratona?

Eu não tinha idéia nenhuma, quando o Frank Jacobsen - um dos técnicos do Team Bravo, disse: Se você correr para 2h47-48, você vai quebrar o recorde. E aí eu falei - ah legal, mas que recorde? O recorde mundial ele disse. E eu: O quê??!!!

Eu não tinha ideia nenhuma em quebrar nenhum recorde, estava concentrado na minha performance, na minha nutrição.

Eu sabia que estava correndo bem, então eu pensei - calma, não posso quebrar. A bike e a corrida, eu fiz sozinho, Os últimos 10km foram bem duros, eu tive que me concentrar muito para manter o ritmo e eu não tinha noção de como eu estava, já que não conseguia ver as marcações dos quilômetros no chão - eles deveriam fazer umas placas altas....

Todo mundo dizia que eu estava perto, mas eu não tinha noção.

Como foram os 2 últimos quilômetros em Florianópolis, você sentiu a energia da torcida?

As pessoas são malucas, a energia e a paixão das pessoas foi muito grande - definitivamente eu absorvi e consegui retomar ainda mais o ritmo para a chegada.

E a linha de chegada como foi?

Eu ainda não sabia, não tinha a confirmação, mas quando eu cruzei a fita e pude ver o relógio - não acreditei: 7:40:23, inacreditável.  

Era o seu objetivo - um recorde e uma performance dessa proporção?

Aos 39 anos na época, definitivamente não e agora eu penso que isso é uma vantagem o fato de não perseguir esses sonhos. Sempre que eu subo no pódio eu curto mais e mais pois não acontece toda hora. Quando você é jovem você ganha uma prova e já está pensando na próxima. Mas é claro que eu sonho com o Ironman do Havaí, mas se eu parar bem, não vai ser uma prova que vai definir a minha carreira - não existem muitas pessoas que estão há mais de 20 anos vivendo como triatleta profissional. Assim que eu penso!

Seu corpo estava mais forte? O que mudou?

Sim, eu estava bem mais forte, usando meu corpo melhor. É uma questão de aprendizado, de crescimento. Estou usando o meu corpo melhor na longa distância. Se você errar no bloco de treinamento é muito mais difícil de se recuperar do que uma prova que acontece sempre. Eu aprendi muito sobre o meu corpo. Estou mais robusto, mais esperto, mais condicionado, mas definitivamente não estou mais rápido - mas isso não é um problema para provas  de Ironman.